terça-feira, 24 de novembro de 2015

ALIENAÇÃO


Quando é que dizemos que uma pessoa é alienada? Quando nos sentimos alienados de alguma situação? Podemos dizer que normalmente chamamos alguém de alienado quando ela está alheia a tudo que acontece a sua volta. Quando ela não se interessa em participar dos assuntos que achamos importantes. E nos sentimos alienados quando somos colocados à margem dos debates importantes ou quando não nos são dadas às informações sobre questões pertinentes a nossa vida.
Etimologicamente a palavra alienação vem do latim alienare, alienus, que significa “que pertence a um outro”. E outro é alius. Sob determinado aspecto, alienar é tornar alheio, transferir par outrem o que é seu. Chauí nos apresenta três grandes formas de alienação: alienação social; alienação econômica e alienação intelectual.
1.      Alienação Social – “A alienação social, na qual os humanos não se reconhecem como produtores das instituições sóciopolíticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam passivamente tudo o que existe, por ser tido como natural, divino ou racional, ou se rebelam individualmente, julgando que, por sua própria vontade e inteligência, podem mais do que a realidade que os condiciona. Nos dois casos, a sociedade é o outro (alienus), algo externo a nós, separado de nós, diferente de nós e com poder total ou nenhum poder sobre nós”.
2.    Alienação Econômica – “A alienação econômica, na qual os produtores não se reconhecem como produtores, nem se reconhecem nos objetos produzidos por seu trabalho. Em nossas sociedades modernas, a alienação econômica é dupla: em primeiro lugar, os trabalhadores, como classe social, vendem sua força de trabalho aos proprietários do capital (donos das terras, das indústrias, do comércio, dos bancos, das
escolas, dos hospitais, das frotas de automóveis, de ônibus ou de aviões, etc). Vendendo sua força de trabalho no mercado da compra e venda de trabalho, os trabalhadores são mercadorias e, como toda mercadoria, recebem um preço, isto é, o salário. Entretanto os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas; não percebem que foram desumanizados e coisificados.
Em segundo lugar, os trabalhadores produzem alimentos (pelo cultivo da terra e dos animais), objetos de consumo (pela indústria), instrumentos para a produção de outros trabalhos (máquinas), condições para a realização de outros trabalhos (transporte de matérias-primas, de produtos e de trabalhadores). A mercadoria-trabalhador produz mercadorias. Estas, ao deixarem as fazendas, as usinas, as fábricas, os escritórios e entrarem nas lojas, nas feiras, nos supermercados, nos shoppings centers parecem ali estar porque lá foram colocadas (não pensando no trabalho humano que nelas está cristalizado e não pensamos no trabalho humano realizado para que chegasse até nós) e, como o trabalhador, elas também recebem um preço.
O trabalhador olha os preços e sabe que não poderá adquirir quase nada do que está exposto no comércio, mas não lhe passa pela cabeça que foi ele, não enquanto indivíduo e sim como classe social, quem produziu tudo aquilo com seu trabalho e não pode ter os produtos porque o preço deles é muito mais alto do que o preço dele, trabalhador, isto é, o seu salário.
Apesar disso, o trabalhador pode, cheio de orgulho, mostrar aos outros as coisas que ele fabrica, ou, se comerciário, que ele vende, aceitando não possuí-las, como se isso fosse muito justo e natural. As mercadorias deixam de ser percebidas como produtos do trabalho e passam a ser vistas como bens em si e por si mesmas (como a propaganda às mostra e oferece)”.
3.      Alienação Intelectual – “A alienação intelectual, resultante da separação social entre trabalho material (que produz mercadorias) e trabalho intelectual (que produz idéias). A divisão social entre as duas modalidades de trabalho leva a crer que o trabalho material é uma tarefa que não exige conhecimentos, mas apenas habilidades manuais, enquanto o trabalho intelectual é responsável exclusivo pelos conhecimentos. Vivendo numa sociedade alienada, os intelectuais também se alienam. Sua alienação é tripla: primeiro esquecem ou ignoram que suas idéias estão ligadas às opiniões e pontos de vista da classe a que pertencem, isto é, a classe dominante, e imaginam, ao contrário, que são idéias universais, válidas para todos, em todos tempos e lugares.
Segundo, esquecem ou ignoram que idéias são produzidas por eles para explicar a realidade e passam a crer que elas se encontram gravadas na própria realidade e que eles apenas as descobrem e descrevem sob a forma de teorias gerais.

Terceiro, esquecendo ou ignorando a origem social das idéias e seu próprio trabalho para criá-las, acreditam que as idéias existem em si e por si mesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco a pouco, passam a acreditar que as idéias se produzem umas às outras, são causas e efeitos uma das outras e que somos apenas receptáculos delas ou instrumentos delas. As idéias se tornam separadas de seus autores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro”.

Gilberto Simplício

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