Quando é que
dizemos que uma pessoa é alienada? Quando nos sentimos alienados de alguma
situação? Podemos dizer que normalmente chamamos alguém de alienado quando ela
está alheia a tudo que acontece a sua volta. Quando ela não se interessa em
participar dos assuntos que achamos importantes. E nos sentimos alienados
quando somos colocados à margem dos debates importantes ou quando não nos são
dadas às informações sobre questões pertinentes a nossa vida.
Etimologicamente
a palavra alienação vem do latim alienare, alienus, que significa
“que pertence a um outro”. E outro é alius. Sob determinado aspecto,
alienar é tornar alheio, transferir par outrem o que é seu. Chauí nos apresenta
três grandes formas de alienação: alienação social; alienação econômica e
alienação intelectual.
1.
Alienação Social – “A alienação social, na
qual os humanos não se reconhecem como produtores das instituições
sóciopolíticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam passivamente tudo o
que existe, por ser tido como natural, divino ou racional, ou se rebelam
individualmente, julgando que, por sua própria vontade e inteligência, podem
mais do que a realidade que os condiciona. Nos dois casos, a sociedade é o
outro (alienus), algo externo a nós, separado de nós, diferente
de nós e com poder total ou nenhum poder sobre nós”.
2.
Alienação Econômica – “A alienação
econômica, na qual os produtores não se reconhecem como produtores, nem se
reconhecem nos objetos produzidos por seu trabalho. Em nossas sociedades
modernas, a alienação econômica é dupla: em primeiro lugar, os
trabalhadores, como classe social, vendem sua força de trabalho aos
proprietários do capital (donos das terras, das indústrias, do comércio, dos
bancos, das
escolas, dos hospitais, das frotas de automóveis, de ônibus ou de aviões, etc). Vendendo sua força de trabalho no mercado da compra e venda de trabalho, os trabalhadores são mercadorias e, como toda mercadoria, recebem um preço, isto é, o salário. Entretanto os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas; não percebem que foram desumanizados e coisificados.
escolas, dos hospitais, das frotas de automóveis, de ônibus ou de aviões, etc). Vendendo sua força de trabalho no mercado da compra e venda de trabalho, os trabalhadores são mercadorias e, como toda mercadoria, recebem um preço, isto é, o salário. Entretanto os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas; não percebem que foram desumanizados e coisificados.
Em segundo lugar, os trabalhadores produzem alimentos (pelo cultivo da
terra e dos animais), objetos de consumo (pela indústria), instrumentos para a
produção de outros trabalhos (máquinas), condições para a realização de outros
trabalhos (transporte de matérias-primas, de produtos e de trabalhadores). A
mercadoria-trabalhador produz mercadorias. Estas, ao deixarem as fazendas, as
usinas, as fábricas, os escritórios e entrarem nas lojas, nas feiras, nos
supermercados, nos shoppings centers parecem ali estar porque lá foram
colocadas (não pensando no trabalho humano que nelas está cristalizado e não
pensamos no trabalho humano realizado para que chegasse até nós) e, como o
trabalhador, elas também recebem um preço.
O trabalhador olha os preços e sabe que não poderá adquirir quase nada
do que está exposto no comércio, mas não lhe passa pela cabeça que foi ele, não
enquanto indivíduo e sim como classe social, quem produziu tudo aquilo com seu
trabalho e não pode ter os produtos porque o preço deles é muito mais alto do
que o preço dele, trabalhador, isto é, o seu salário.
Apesar disso, o trabalhador pode, cheio de orgulho, mostrar aos outros
as coisas que ele fabrica, ou, se comerciário, que ele vende, aceitando não
possuí-las, como se isso fosse muito justo e natural. As mercadorias deixam de
ser percebidas como produtos do trabalho e passam a ser vistas como bens em si
e por si mesmas (como a propaganda às mostra e oferece)”.
3.
Alienação Intelectual – “A alienação
intelectual, resultante da separação social entre trabalho material (que produz
mercadorias) e trabalho intelectual (que produz idéias). A divisão social entre
as duas modalidades de trabalho leva a crer que o trabalho material é uma
tarefa que não exige conhecimentos, mas apenas habilidades manuais, enquanto o
trabalho intelectual é responsável exclusivo pelos conhecimentos. Vivendo numa
sociedade alienada, os intelectuais também se alienam. Sua alienação é tripla:
primeiro esquecem ou ignoram que suas idéias estão ligadas às opiniões e
pontos de vista da classe a que pertencem, isto é, a classe dominante, e
imaginam, ao contrário, que são idéias universais, válidas para todos, em todos
tempos e lugares.
Segundo, esquecem ou ignoram que idéias são produzidas por eles para
explicar a realidade e passam a crer que elas se encontram gravadas na própria
realidade e que eles apenas as descobrem e descrevem sob a forma de teorias
gerais.
Terceiro, esquecendo ou ignorando a origem social das idéias e seu
próprio trabalho para criá-las, acreditam que as idéias existem em si e por si
mesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco a pouco,
passam a acreditar que as idéias se produzem umas às outras, são causas e
efeitos uma das outras e que somos apenas receptáculos delas ou instrumentos
delas. As idéias se tornam separadas de seus autores, externas a eles,
transcendentes a eles: tornam-se um outro”.
Gilberto Simplício
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