terça-feira, 24 de novembro de 2015

CONSCIÊNCIA

Muitas vezes falamos que certa pessoa tem a consciência dos seus atos, consciência do que acontece ao seu redor, consciência de sua situação em que vive, etc. Quando dizemos isso, estamos queremos demonstrar que essa pessoa tem a percepção das suas atitudes e posicionamentos diante si mesmo e do mundo que o cerca.
O conceito de consciência é um dos principais objetos de estudo da psicanálise[1], que teve no seu criador Freud um papel predominante ao afirmar que “a consciência é a menor parte e a mais fraca de nossa vida psíquica. E que a vida psíquica é constituída de por três instâncias sendo duas delas inconscientes e apenas uma consciente: o id, o super-ego e o ego (ou o isso, o super-eu e o eu). Os dois primeiros são inconscientes; o terceiro, consciente. O id é formado por instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes. (...) O super-ego, também inconsciente, é a censura das pulsões que a sociedade e a cultura impõem ao id, impedindo de satisfazer seus instintos e desejos. É a repressão, particularmente a repressão sexual. (...) o ego ou o eu é a consciência, pequena parte da vida psíquica, submetida aos desejos do id e à repressão do super-ego. Obedece ao princípio da realidade, ou seja, à necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao id sem transgredir as exigências do super-ego”.[2]
Para compreendermos e analisarmos os diversos fenômenos sociais se faz necessário compreendermos e utilizarmos em nossas análises esses princípios da psicanálise apresentado por Freud e por outros teóricos que a partir dele continuaram desenvolvendo trabalhos de pesquisa concordando e discordando que nos ajuda a pensar esta questão para nós fundamental, como Jung, Lacan, Piaget, Eric Fronn e outros.
E dentro de uma perspectiva sociológica temos dois conceitos que se torna necessários para compreendermos melhor a questão da consciência e sua relação com a ideologia: a Consciência Coletiva e a Consciência de Classe.
1.      Consciência Coletiva – Este conceito já foi anteriormente apresentado de forma preliminar no capitulo 3 na reflexão sobre a sociologia funcionalista. É importante termos claro que Durkheim ao apresentar o conceito de consciência coletiva, ele pressupõe a existência de uma consciência individual, ou seja, cada pessoa tem um jeito de pensar e agir, de entender a vida.
Enquanto que a consciência coletiva seria a consciência da sociedade, ou melhor, aquela formada pelas idéias comuns que estão presentes em todas as consciências individuais de uma sociedade.  Seria uma primeira consciência que determina a nossa conduta que não é individual, mas social. Ela está espalhada em toda a sociedade ela é exterior ao indivíduo, pois é a sociedade que determina o que o indivíduo vai pensar e normalmente de forma coercitiva, exercendo uma autoridade sobre o indivíduo. E o importante é que Durkheim e os funcionalistas vêem como positivo essa ação da consciência coletiva sobre a consciência individual. Pois seria uma forma de conservar a sociedade que caso contrário ela não teria continuidade, e assim seria uma forma de manter a ordem social.
2.      Consciência de Classe – Quando Marx diz que “não é a consciência dos homens que determina a realidade; ao contrário, é a realidade social que determina sua consciência”, ele demonstra que a consciência social exprime e constitui, ao mesmo tempo, as relações sociais. O processo de alienação em que está inserida a classe trabalhadora, é determinada pelas relações estabelecida entre ela e a classe capitalista, através da venda e compra da força de trabalho, ou seja, transformando os trabalhadores em uma mercadoria idêntica a produzida por eles. Para modificar essa realidade, a classe trabalhadora tem que desenvolver uma autoconsciência e isso se dá dentro de um processo dinâmico, no contexto do desenvolvimento de suas próprias lutas como classe, contra as
relações de alienação em que se acha inserida.
O pensador marxista húngaro George Lukács nos ajuda a refletir sobre esse processo da autoconsciência do trabalhador quando faz essa análise a partir de dois aspectos significativos: a consciência de classe em si e a consciência de classe para si.
O primeiro momento é consciência da sua situação de classe, é quando o trabalhador se percebe enquanto uma classe social determinada pelas condições sociais de produção na qual ela está inserida. “O operário só pode tomar consciência do seu ser social se tomar consciência de si próprio como mercadoria... a sua consciência é a consciência de si da mercadoria”.[3] É através desse momento de sua autoconsciência que o trabalhador consegue ter a compreensão da própria estrutura da sociedade capitalista, pois a exploração do trabalhador é a essência do próprio capitalismo.
O segundo momento consiste em ir além de compreender a situação de classe e as relações sociais e de produção em que está inserido enquanto classe trabalhadora explorada pelo capital, e perceber a necessidade de se tomar uma posição de classe dentro da luta travada entre o trabalho e o capital, se colocando como sujeito na luta pela superação da dominação em busca da liberdade.

Gilberto Simplício



[1] Criado pelo médico psiquiatra S. Freud  “cujo objeto central era o estudo do inconsciente e cuja finalidade era a cura de neuroses e psicoses, tendo como método a interpretação e como instrumento a linguagem (tanto a linguagem verbal das palavras quanto a linguagem corporal dos sintomas e dos gestos.”  Marilena Chauí in Convite à Filosofia op cit  pág. 167.
[2] Idem pág. 167-168.
[3] Lukács, George. História e consciência de classe. Fragmentos retirado do livro de Ilse Scherer-Warren Op Cit. pág 53.

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