A IDEOLOGIA
enquanto conceito sofre a mesma dificuldade encontrada com o conceito de
cultura. Não há um acordo completo sobre o seu significado. Mas em nível geral
ela é vista como um “sistema de idéias, crenças, mitos, representações etc,
pertinentes a uma sociedade de classe”.[1]
Diversos
autores deram outros significados para o conceito de ideologia, mas é em Marx e
posteriormente entre os pensadores marxistas é que os debates e a reflexões
serão enriquecidos. Na concepção marxista a ideologia adquire um aspecto negativo,
ou seja, um sentido estabilizador do sistema a favor da dominação de uma
classe aparecendo como uma falsa consciência das classes dominadas. Na sua obra
Ideologia Alemã, Marx nos diz:
“As idéias
da classe dominante são as idéias dominantes em cada época; ou, dito em outros
termos, a classe que exerce o poder material dominante na sociedade é, ao mesmo
tempo, seu poder espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os
meios para a produção material dispõe, com isso, ao mesmo tempo, dos meios para
a produção espiritual, o que faz com que se lhe submetam no devido tempo, a
médio prazo, as idéias daqueles que carecem dos meios necessários para produzir
espiritualmente”.[2]
Para Marx,
portanto, a classe dominante mantém sua dominação não apenas porque detém o
poder econômico e o poder político, mas também – e não menos importante –
porque domina ideologicamente.
A ideologia
não é apresentada ou concebida como uma mentira que uma classe impõe a outra,
mas como um processo de naturalização. Onde as diversas situações são vistas
como naturais e não criadas por situações históricas e estruturais.
Para entendermos melhor vejamos a definição dada
pela filósofa Marilena Chauí :
“A ideologia é um conjunto lógico,
sistemático e coerente de representações (idéias e valores) e de normas e
regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que
devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar,
o que vem sentir e como devem sentir,o que devem fazer e como devem fazer. Ela
é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras,
preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos
membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as
diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças
à divisão da sociedade em classes, a
partir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função da
ideologia é a de apagar as diferenças, como as de classes, e de fornecer aos membros
da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais
identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a
Liberdade, a Igualdade, a Nação, ou o Estado”.[3]
Alguns
pensadores já observam a ideologia como uma forma de consciência das reais
condições de vida dos explorados socialmente, como uma forma de contestação das
condições de dominação de classe, e mesmo como uma orientação política
transformadora, isto é, como um instrumento de luta. Ou seja, a ideologia é
vista com um aspecto positivo, como um sentido transformador do
sistema.
O pensador
marxista italiano Antônio Gramsci considera que em um primeiro momento,
enquanto concepção de mundo, a ideologia tem a função positiva de atuar como cimento
da estrutura social. Ele não considera que os dominados permaneçam submissos
indefinidamente, pois no senso comum poderão ser trabalhados elementos de bom
senso e de instinto de classe que aos poucos formarão por sua vez a ideologia
dos dominados. Daí a necessidade da formação de intelectuais surgidos da
própria classe subalterna capazes de organizar coerentemente a concepção de
mundo dos dominados.
Essas
ideologias são historicamente necessárias porque, segundo Gramsci, “organizam
as massas humanas, formam o terreno sobre o qual os homens se movimentam,
adquirem consciência de sua posição, lutam etc.”. [4]
É importante
perceber que esses dois aspectos da ideologia, apresentados anteriormente, estabilizador
e transformador do sistema, ou seja, aspectos negativo e positivo
podem se apresentar contraditoriamente atuantes no cotidiano e nos projetos
ideológicos de um mesmo grupo social. Por isso é importante entender o conceito
de ideologia em um sentido mais abrangente, com uma possível unidade de
contrários.
A submissão à
ideologia dominante, por parte das classes subalterna, pode significar, em
última instância, sua falsa consciência social ou alienação. Por outro lado
quando as classes subalternas, em suas representações sociais, expressam suas
reais condições de existência, desenvolvendo, portanto, uma ideologia de classe
autônoma, estamos na presença da formação de uma consciência social. [5]
Gilberto Simplício
[1]
Esse conceito foi retirado do livro de IlseScherer-Warren MOVIMENTOS SOCIAIS – Um Ensaio de
Interpretação Sociológica Ed. EFSC
Florianópolis 1989 pág. 16.
[2] Octávio Ianni. Op. Cit. Pág 26.
[3] Este
texto é um fragmento do livro O que é ideologia de Marilena Chauí citado por
Maria Lúcia de Arruda Aranha Maria Helena Pires Martins In FILOSOFANDO -
Introdução à Filosofia Ed. Moderna São Paulo 1994 pág. 37.
[4] Maria
Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins Op Cit. pág.36-37.
[5] Ilse scherer-warren Op Cit. pags
16,17 e 18.
Nenhum comentário:
Postar um comentário