terça-feira, 24 de novembro de 2015

IDEOLOGIA


A IDEOLOGIA enquanto conceito sofre a mesma dificuldade encontrada com o conceito de cultura. Não há um acordo completo sobre o seu significado. Mas em nível geral ela é vista como um “sistema de idéias, crenças, mitos, representações etc, pertinentes a uma sociedade de classe”.[1]
Diversos autores deram outros significados para o conceito de ideologia, mas é em Marx e posteriormente entre os pensadores marxistas é que os debates e a reflexões serão enriquecidos. Na concepção marxista a ideologia adquire um aspecto negativo, ou seja, um sentido estabilizador do sistema a favor da dominação de uma classe aparecendo como uma falsa consciência das classes dominadas. Na sua obra Ideologia Alemã, Marx nos diz:
As idéias da classe dominante são as idéias dominantes em cada época; ou, dito em outros termos, a classe que exerce o poder material dominante na sociedade é, ao mesmo tempo, seu poder espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios para a produção material dispõe, com isso, ao mesmo tempo, dos meios para a produção espiritual, o que faz com que se lhe submetam no devido tempo, a médio prazo, as idéias daqueles que carecem dos meios necessários para produzir espiritualmente”.[2]
Para Marx, portanto, a classe dominante mantém sua dominação não apenas porque detém o poder econômico e o poder político, mas também – e não menos importante – porque domina ideologicamente.
A ideologia não é apresentada ou concebida como uma mentira que uma classe impõe a outra, mas como um processo de naturalização. Onde as diversas situações são vistas como naturais e não criadas por situações históricas e estruturais.
Para entendermos melhor vejamos a definição dada pela filósofa Marilena Chauí :
  “A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (idéias e valores) e de normas e regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que vem sentir e como devem sentir,o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em  classes, a partir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função da ideologia é a de apagar as diferenças, como as de classes, e de fornecer aos membros da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Nação, ou o Estado”.[3]
Alguns pensadores já observam a ideologia como uma forma de consciência das reais condições de vida dos explorados socialmente, como uma forma de contestação das condições de dominação de classe, e mesmo como uma orientação política transformadora, isto é, como um instrumento de luta. Ou seja, a ideologia é vista com um aspecto positivo, como um sentido transformador do sistema.
O pensador marxista italiano Antônio Gramsci considera que em um primeiro momento, enquanto concepção de mundo, a ideologia tem a função positiva de atuar como cimento da estrutura social. Ele não considera que os dominados permaneçam submissos indefinidamente, pois no senso comum poderão ser trabalhados elementos de bom senso e de instinto de classe que aos poucos formarão por sua vez a ideologia dos dominados. Daí a necessidade da formação de intelectuais surgidos da própria classe subalterna capazes de organizar coerentemente a concepção de mundo dos dominados.
Essas ideologias são historicamente necessárias porque, segundo Gramsci, “organizam as massas humanas, formam o terreno sobre o qual os homens se movimentam, adquirem consciência de sua posição, lutam etc.”. [4]
É importante perceber que esses dois aspectos da ideologia, apresentados anteriormente, estabilizador e transformador do sistema, ou seja, aspectos negativo e positivo podem se apresentar contraditoriamente atuantes no cotidiano e nos projetos ideológicos de um mesmo grupo social. Por isso é importante entender o conceito de ideologia em um sentido mais abrangente, com uma possível unidade de contrários.
A submissão à ideologia dominante, por parte das classes subalterna, pode significar, em última instância, sua falsa consciência social ou alienação. Por outro lado quando as classes subalternas, em suas representações sociais, expressam suas reais condições de existência, desenvolvendo, portanto, uma ideologia de classe autônoma, estamos na presença da formação de uma consciência social. [5]


Gilberto Simplício

[1] Esse conceito foi retirado do livro de IlseScherer-Warren  MOVIMENTOS SOCIAIS – Um Ensaio de Interpretação Sociológica Ed. EFSC  Florianópolis 1989 pág. 16.
[2] Octávio Ianni. Op. Cit. Pág 26.
[3] Este texto é um fragmento do livro O que é ideologia de Marilena Chauí citado por Maria Lúcia de Arruda Aranha Maria Helena Pires Martins In FILOSOFANDO - Introdução à Filosofia Ed. Moderna São Paulo 1994 pág. 37.
[4] Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins Op Cit. pág.36-37.
[5] Ilse scherer-warren Op Cit. pags 16,17 e 18.

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