A IDENTIDADE EM QUESTÃO
A questão da identidade está sendo extensamente discutida na teoria
social. Em essência, o argumento é o seguinte: as velhas identidades, que por
tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declino, fazendo surgir
novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um
sujeito unificado. A assim chamada "crise de identidade" é vista como
parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e
processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência
que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social.
(...)
Para os propósitos(...),
distinguirei três concepções muito diferentes de identidade, a saber, as
concepções de identidade do:
a) Sujeito do Iluminismo
O sujeito do Iluminismo estava baseado numa
concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado,
dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo
"centro" consistia num núcleo interior, que pela primeira vez quando
o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo
essencialmente o mesmo — continuo ou "idêntico" a ele — ao longo da
existência do indivíduo. O centro essencial do eu era a identidade de urna
pessoa. (...)
b) Sujeito
sociológico
A noção de sujeito sociológico refletia a crescente
complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do
sujeito não era autônomo e auto-suficiente, mas era formado na relação com
"outras pessoas importantes para ele", que mediavam para o sujeito os
valores, sentidos e símbolos — a cultura — dos mundos que ele/ela habitava.
De acordo com essa visão, que se tornou a concepção
sociológica clássica da questão, a identidade é formada na
"interação" entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo
ou essência interior que é o "eu real", mas este é formado e
modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais "exteriores"
e as identidades que esses mundos oferecem.
A identidade, nessa concepção sociológica, preenche
o espaço entre o "interior" e o "exterior"— entre o mundo
pessoal e o mundo público. O fato de que projetamos a "nós próprios"
nessas identidades culturais, ao mesmo tempo que internalizamos seus
significados e valores, tornando- os "parte de nós", contribui para
alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que ocupamos no
mundo social e cultural. A identidade, então, costura (ou, para usar uma
metáfora médica, "sutura") o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os
sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos
reciprocamente mais unificados e predizíveis. (...)
c) Sujeito pós-moderno.
É visto como não tendo uma identidade fixa,
essencial ou permanente. A identidade torna-se uma "celebração
móvel": formada transformada continuamente em relação às formas pelas
quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos
rodeiam (Hall, 1987). E definida historicamente, e não biologicamente. O
sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que
não são unificadas ao redor de um "eu" coerente. Dentro de nós há
identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que
nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. Se sentimos que
temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque
construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora
"narrativa do eu" (veja Hall, 1990). A identidade plenamente
unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida
em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam,
somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades
possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar — ao menos
temporariamente. (...)
O que está em jogo na questão das identidades?
Em 1991, o então presidente americano, Bush,
ansioso por restaurar uma maioria conservadora na Suprema Corte americana,
encaminhou a indicação de Clarence Thomas, um juiz negro de visões políticas
conservadoras.
No julgamento de Bush, os eleitores brancos (que
podiam ter preconceitos em relação a um juiz negro) provavelmente apoiaram
Thomas porque ele era conservador em termos da legislação de igualdade de
direitos, e os eleitores negros (que apóiam políticas liberais em questões de
raça) apoiariam Thomas porque ele era negro. Em síntese, o presidente estava
"jogando o jogo das identidades".
Durante as
"audiências" em torno da indicação, no Senado, o juiz Thomas foi
acusado de assédio sexual por uma mulher negra, Anita Hill, uma ex-colega de
Thomas. As audiências causaram um escândalo público e polarizaram a sociedade
americana. Alguns negros apoiaram Thomas, baseados na questão da raça; outros
se opuseram a ele, tomando como base a questão sexual. As mulheres negras
estavam divididas, dependendo de qual identidade prevalecia: sua identidade
como negra ou sua identidade como mulher. Os homens negros também estavam
divididos, dependendo de qual fator prevalecia: seu sexismo ou seu liberalismo.
Os homens brancos estavam divididos, dependendo, não apenas de sua política,
mas da forma como eles se identificavam com respeito ao racismo e ao sexismo.
As mulheres conservadoras brancas apoiavam Thomas, não apenas com base em sua
inclinação política, mas também por causa de sua oposição ao feminismo. As
feministas brancas, que frequentemente tinham posições mais progressistas na
questão da raça, se opunham a Thomas tendo como base a questão sexual. E, uma
vez que o juiz Thomas era um membro da elite judiciária e Anita Hill, na época
do alegado incidente, uma funcionária subalterna, estava em jogo, nesses
argumentos, também questão de classe social.
(Do livro: A identidade cultural na pós-modernidade, DP&A Editora, 1ª
edição em 1992, Rio de Janeiro, 11ª edição em 2006,)
O professor cadê as perguntas? Carolina Guedes do 2º ano A, CSA
ResponderExcluirhttps://docs.google.com/forms/d/1JpgsnxMyJDbnkYho5stink7lZ9Y5QuREat9NmAxsxLQ/viewform?sid=6fdb07fb69b8d3b5&token=dJbGFT4BAAA.XaifURWdjE5H9Yf537VfTg.uzVm1RpquJx9XC1myZLWfg
ExcluirClique neste link que você vai direto para as perguntas ou entre na web quest postado neste Blog com o títulob IDENTIDADE CULTURAL E SOCIAL no lado direito e vai na avaliação que lé está esse mesmo link.
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